COMIDA E LIXO JUNTOS NO “ASA BRANCA”

A falta de juízo e de higiene intelectual da governação do MPLA está a comprometer o bem-estar dos munícipes de Luanda. Regista-se, em todos mercados da cidade capital de Angola a falta ou a má conservação dos produtos alimentares, que são as causas de muitas doenças e mortes. Uma vez que há falta de praças oficiais onde o comércio se faça em boas condições para vendedores e compradores. Particularmente, as vendedeiras do Asa Branca vendem bens alimentares expostos ao lixo há mais de onze meses no município do Cazenga, onde o lixo tem preocupado os residentes que reclamam a falta de limpeza por parte da administração local.

Por Elias Muhongo

Os produtos alimentares à venda estão expostos ao lixo no mercado do Asa Branca há mais de onze meses no município do Cazenga. Estes problemas são antigos. Os mercados formais e informais da cidade capital de Angola transformaram-se num verdadeiro depósito de lixo dos munícipes, que rodeia e convive com as vendedoras que, para sobreviver, fazem daqueles mercados de venda de bens, muitos dos quais perecíveis. A justificativa do encerramento abrupto de vários mercados informais tem vindo a mostrar que o problema de Angola, agricolamente falando (ou não), é mesmo de ter excesso de nabos e escassez de tomates, na condução do país, que não apostam na educação e saúde, tão necessárias para impedir a propagação de mais nabos, na pradaria.

A lei do comércio em Angola estabelece a actividade de venda a retalho como exclusiva a cidadãos nacionais, mas na prática ela é, quase, exclusiva de cidadãos estrangeiros, maioritariamente de países muçulmanos, com os riscos daí inerentes. Quando os mercados que podem ser uma bolsa de aprendizagem, para muitos empreendedores, o Estado ou encerra ou limita a actividade destes, inviabilizando desta feita, o traquejo, para o normal exercício do comércio à retalho, tudo pela falta de visão e estupidez (criminosa), do executivo do MPLA. Um dos exemplos à mão de semear é o vazio criado até aqui no espaço do antigo Mercado Roque Santeiro, que faz mais de 12 anos que deixou de existir, quando diariamente movimentava, segundo fontes oficiosas, mais de um milhão de dólares, que deixaram de entrar na economia informal e formal.

O nosso jornalista, Hermenegildo Caculo, recorda que, “hoje, o que resta daqueles que eram os maiores mercados informais a céu aberto de África é uma eterna saudade, pela pujança financeira e a capacidade de empregos que geravam. A medida do Executivo MPLA, imposta à época, após reunião com proprietários de armazéns e câmaras frigoríficas instalados nas zonas urbanas e de derrubar estes empreendimentos, com a colaboração da Polícia Económica afectaram não só, os comerciantes como também as vendedeiras dos produtos alimentares, como aqueles terceirizados, que deles dependiam. Por falta de organização, são estas vendedoras e vendedeiras que, denunciam a incompetência do governo João Lourenço”.

De acordo as informações dos comerciantes e das vendedeiras, têm estado a vender desde Janeiro de 2022 os seus produtos alimentares por cima do lixo.

“É um perigo que temos vindo a correr, as moscas alimentam-se dos produtos que vendemos. Mas ainda assim, os fiscais todos os dias têm vindo cobrar-nos 200kz diários, sem medir as consequências que estamos a viver. Nós não temos para onde ir vender os nossos produtos, aqui é o único local que é a nossa sobrevivência. O nosso pedido de socorro para uma boa organização não é de hoje, uma vez que vendemos alimentos de primeira necessidade, tais como: verduras, arroz, feijão, peixe, carne e pão etc., que necessitam de melhores cuidados para os consumidores” lamenta Miquelina Bartolomeu, uma das mais conhecidas vendedoras do mercado Asa Branca, no local desde seu surgimento, acrescentando “que é de onde consegue sustento para a criação e formação dos seus quatro filhos. “A minha casa, onde nasceram os meus filhos, resultam do negócio que eu tenho estado a vender aqui no Asa Branca”, afirma.

Já Esperança Miguel, para quem muitas pessoas só com o “processo” (forma de guardar mercadoria), conseguiram manter “os filhos nas creches, universidades; construíram casa própria, alguns hoje são senhorios, enfim. Mas há outros que viram as suas vidas praticamente a acabar, pois vivem numa extrema pobreza e miséria”.

A empresária Graciete Damião disse ao Folha 8 que “é uma empresária vinda de zunga, já zunguei muito no Roque Santeiro, este mercado já deu que falar, enriqueceu muita gente e como também empobreceu milhares de angolanos, até muitos estão malucos, apesar de alguns que foram enviados para o Mercado do Panguila que ocupa uma área quase de 250 mil metros quadrados, criado pelo governo provincial de Luanda para albergar os vendedores que saíram do antigo Roque Santeiro, mas devido à distância e à pouca visão administrativa do executivo MPLA, em Março de 2012, o bairro do Panquila passou a pertencer ao município do Dande, província do Bengo, logo era um transtorno as deslocações diárias e, mais grave, a falta de dinheiro e clientes. Infelizmente, muitos que estavam acostumados com o mercado Roque Santeiro preferiram dividir o pouco que fazem com os fiscais corruptos, pois estamos a vender às vezes com os armazéns fechados e eles têm o conhecimento, porque são todos corruptos”, disse

Adiantando que, “as administrações preocupam-se com o surgimento de mercados informais nas zonas, mas esqueceram-se que o povo angolano vive em extrema miséria. Hoje, desde que o mercado antigo saiu, a maioria prefere vender no mercado de Kalussinga e no Pombinha, eu neste momento tenho algumas bancadas no Mercado do Km30, Kicolo e Asa Branca, é triste, porque a organização não é boa. Vê-se o lixo em todos estes mercados. Atenção, se em toda parte da cidade de Luanda há lixo, o que será dos mercados? Os mercados tornaram-se balneários públicos de muitos residentes nos arredores e não só, às vezes, estes mercados que o governo pensa que é formal, os seguranças cobram a entrada para ir defecar às noites, o que acontece, às vezes, as tais ditas pessoas, já não se dirigem nas vitrinas internas dos mercados, defecando mesmo nos locais de vendas, as minhas vendedeiras já têm estados a recolher cocós (fezes) nas barracas, é triste dizer, mas é a pura realidade”, lamenta, empresária Graciete Damião

Segundo o docente Universitário, Daniel Pascoal Nguelengue, “no quadro da estratégia de “Trabalhar Mais e Comunicar Melhor”, o Executivo angolano está a pecar bastante, não está a fazer-se sentir o aumento dos mecanismos de diálogo e participação dos cidadãos na análise das grandes questões nacionais e na identificação das melhores soluções para as resolver. Estes problemas não são de hoje, têm a ver com a extrema miséria que o país está a viver há 47 anos. O governo do MPLA continua a não investir no ser humano como principal agente do desenvolvimento, na sua educação e formação, nos cuidados de saúde, na habitação condigna, no acesso à água potável e energia eléctrica, no saneamento básico”.

Acrescentando que “a fiscalização aumentou nos últimos tempos, depois de o governador de Luanda, Manuel Homem, ter anunciado que “vai trabalhar para acabar com a venda ambulante no casco urbano”. O que se constata é uma verdadeira desordem, pois a venda informal não acaba, pelo contrário, aumenta. Tenho a minha vizinha Manuela, vendedora de peixe que também migrou de outros mercados e das ruas por conta das corridas dos fiscais, ter-me afirmado que no mercado do Asa Branca encontrou paz e consegue alguma estabilidade financeira, mesmo estando a vender por cima de lixo. Tem 4 filhos e consegue sustentá-los com o que ganha lá. É uma pena e é triste, o executivo deve velar pelo bem-estar dos angolanos, espero que a administração liderada pelo Tomás Bica venha nos dizer alguma coisa”, lamenta e explica.

O Folha 8 procurou saber o custo do pagamento das fichas, alegadamente, junto do administrador do mercado local do Asa Branca que preferiu não o fazer de forma formal, dizendo contudo que desconhece esta informação, uma vez que as vendedoras foram proibidas de vender no local, mas, afirmando que é do conhecimento da administração municipal que o lixo reina no local há mais de onze meses, deixando inconsolável tanto as vendedoras como os consumidores.

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